quinta-feira, 9 de abril de 2009

ONDE A PORCA TORCE O RABO

Recebi um conselho de um mestre, sobre poesias e novos escritores:

ONDE A PORCA
TORCE O RABO

Affonso Romano de Sant’Anna



Às vezes, leitores escrevem a mim e a outros escritores, perguntando se podem enviar (ou já enviando) seus textos. Em geral, repetem algumas coisas, que retratam o desconforto dessa situação. Primeiro, que carecem da opinião de alguém mais experimentado, que lhes oriente e, em muitos casos, querem saber se devem ou não continuar a escrever.
Nem sempre são jovens, mas pessoas maduras em quem, de repente, a literatura (ou a liberdade de expressão?) aflorou. Faço o possível para responder. Às vezes sugiro a leitura de vários livros, muitos citados em “A sedução da palavra”(Ed. Letraviva), que tem o propósito expresso de orientar iniciantes e repassar experiências literárias. O ideal é que houvesse uma “clínica de textos”, que acolhesse essa demanda profissionalmente, porque nenhum escritor tem disponibilidade para esse árduo e delicadíssimo trabalho. Seria um trabalho de consultoria, como qualquer outro, com hora marcada, tabela de preço, para dar logo mais seriedade à atividade.
Alguns pedem logo uma orelha ou prefácio, caso o livro seja do agrado. Isto também é complicado. O solicitante tem a ilusão que uma apresentação vai lhe abrir as portas. Não vai. Só vai se o livro for bom mesmo. Neste caso nem precisa de orelha ou prefácio para se impor. Claro, há autores que elogiam todo e qualquer livro, por generosidade ou por não quererem magoar as pessoas.
Quando o autor pergunta se deve continuar ou não a escrever, digo que esta é uma questão que ele, e não outros, deve responder. Dá vontade de lembrar aquele conselho de Rilke ao jovem poeta, que se escrever não for uma necessidade vital, então é mesmo melhor parar e ir cantar noutra freguesia.

Às vezes, os que pedem tal opinião estão num estágio pré-literário.Escrevem só de ouvido.Repetem lugares comuns. Não sabem nem o que é lugar comum ou como lidar com ele. Não estão a par da história literária, dos movimentos que se sucederam, dos diferentes estilos e técnicas. Não são nem sequer leitores, bons leitores, aqueles que convivem e assimilam os grandes e pequenos autores. Pensam que escrevem, mas estão sendo escritos por uma linguagem que já existe. Desconhecem que o escritor é aquele que ocupa um lugar na linguagem. O texto está entre o prosaico de certas letras banais de música e simples(ainda que legítimas) anotações emocionais. Nesses casos não há muito ou nada que fazer. (O mesmo se dá com quem resolve pintar, fazer teatro, música ou o que seja de artístico, movido por impulsos superficiais e descomprometidos).
Mas o caso mais difícil é daqueles que têm realmente talento e já se expressam de uma maneira mais madura e pessoal. Não vamos encontrar em seus trabalhos falhas primárias. Já têm leitura. Conhecem alguns clássicos de ontem e de hoje. Não são incautos. Estão numa situação que é grave e delicada, estão na borda de alguma coisa que pode, ou não, acontecer. Ou seja, podem ou não virar socialmente artistas.
E é aqui que a porca torce o rabo.
Tirando de lado as pessoas que realmente não têm talento, há outras que são capazes de produzir uma pintura ou escultura correta, até com certa inventividade. Pessoas que são capazes de produzir um ou mais contos interessantes, mesmo um romance. Pessoas que podem produzir uma ou outra música que nos diz alguma coisa. E assim por diante, uma peça de teatro ou, cinematograficamente, um curta ou longa. Pessoas, enfim, que podem produzir alguns bons poemas.

Até diria que uma coisa é estar artista e outra é ser artista. Pode uma pessoa numa determinada circunstância ou período de sua vida, eventualmente, estar em condições tais que suas emoções se precipitem em determinadas formas de expressão. É como se tivesse se conectado com forças e energias que a ultrapassam e a resgatam.

Mas uma coisa é a capacidade de fazer algo razoavelmente bem feito num determinado instante. Outra é comprometer-se com um projeto onde vida-e-obra se confundem. É como se tivéssemos achado umas pepitas de ouro na superfície de um terreno. Mas a riqueza está no fundo e exige paciência, técnica e aprofundamento. E é aqui que muitos embatucam, porque achavam que bastava balançar a árvore dourada e os frutos cairiam aos seus pés de Midas.
Ao contrário, daqui para frente é que o desafio vai começar. Agora é que há que atravessar o deserto por quarenta anos e cultivá-lo “como um pomar às avessas”. É como se alguém tivesse as ferramentas, alguns tijolos e pedras: resta uma construção por fazer. Cadê o projeto? E a construção é aquilo que se constrói enquanto se constrói. Sendo a obra de arte, segundo Joyce, uma obra-em-progresso, como diria o nosso Rosa, é travessia.
Por isto, as pessoas que têm alguns dos atributos necessários para se tornarem artistas, num determinado instante encontram-se naquela situação que a antropologia chama de situações limites. Há um ritual a cumprir para se passar de um estágio a outro. Ultrapassar essa linha divisória entre o amadorismo e o profissionalismo, entre o episódico e o sistemático, entre o aleatório e um projeto estético-existencial, eis o desafio. E nisto, de novo, há uma pesada solidão. Solidão dificil de ser compartilhada. Tenho dito a algumas dessas pessoas que surpreendi na soleira desse rito de iniciação: agora depende de você. De você e de uma série de fatores aleatórios. Pois assim como o criador tem que cavar no escuro de si mesmo a sua pretensa riqueza, entrar no sistema literário e artístico é entrar numa selva escura. Talentos podem se perder, ou terem seu percurso mutilado, enquanto outros são espantosamente superestimados.

O artista autêntico, no entanto, tem a coragem e a audácia de abrir e povoar uma clareira ou receber esse raio na cara, não apenas eventualmente, mas a todo instante. Mas isto é altamente perigoso. Diante dessa situação, alguns entram em pânico e se demitem. Abrir-se à arte é dar um salto mortal no escuro, para que todos vejam.

AGUARDEM PUBLICAÇÃO DO LIVRO SANGRANDO, PELA EDITORA LIVRO PRONTO LTDA.

Livro de poesias do poeta Ricardo Muzafir.... em 2009.

O MUNDO QUE LHE RESTOU.

Hoje vi uma criança nascer
Degladiando para poder sair
O lugar que se encontrava, era aconchegante
Um lugar sereno, alagado e puro.
Mas havia chegado a hora.
O mundo lhe esperava.

Não era o mundo que queria lhe apresentar
Mas era meu mundo
O mundo que passou a ser seu,
A partir daquele momento.
Como iria transformá-lo?
Era só uma questão de tempo
Transformar o que lhe restava.

Não era só meu mundo
Mas agora também era seu.
Grandes devastações, grandes clareiras, grandes queimadas
Este tornou-se seu mundo.
Tentei deixar de herança um mundo melhor
Mas como fazer?
Se não era só meu!

Mas enfim,
Cultive o que deva ser cultivado,
Plante o que deva ser plantado,
Alimente o que deva ser alimentado,
E preserve o que restou para ser preservado.

Ricardo Muzafir. ..... 2009

sábado, 4 de abril de 2009

Amargo, doce veneno!

Saboreio seu néctar
Bebo do seu vinho
Escarro na sua taça
Amargo, doce veneno.

Procrio no bucho de tuas entranhas
O cálice sagrado da vida
É o divino do teu corpo
Sensual, delicado, liso e macio.

Fecundo seu ventre
Sacio-te da tua carne
Sangue viscoso e doce
Amor insano, selvagem, rebelde e transcendental

Alma gêmea desencarnada
Perdida entre vidas e épocas
Buscando o seu complemento, a sua alma
Esperando o sentido, do que não é vivido.

Enquanto isso: bebo o amargo do seu doce veneno.

Ricardo Muzafir (2008).
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Carta para um irmão.

Amigo é diferente de irmão, porque é uma irmandade que escolhemos, diferente de irmão que é um amigo de "alguma forma" imposta.

Hoje vendo tv, o programa Raul Gil estava prestando uma homenagem ao Padre Fábio de Melo da Igreja Católica, Canção Nova. Lembrei de amigos (irmãos), que estão longe e que sinto falta de sua presença, estão em Manaus - AM, são amigos que estiveram presentes na minha vida em vários momentos, momentos de felicidade, momentos de tristeza. Passaram por uma dificuldade enorme a pouco tempo, vendo seu irmão sofrer um acidente e deixando-o numa cadeira de rodas, mas Deus continuou ao seu lado, lhe dando força pra continuar sendo a fortaleza que é, e fazendo deste acontecimento apenas uma barreira para poder compreender a razão de sua vida. E como recompensa pelo exemplo de vida, pela luta contra preconceitos, pelo amor a sua família, Deus lhe deu o presente mais divino que se possa ter, um FILHO, que é a cara do seu herói.

Nunca lhe falei isto, mas OBRIGADO. Obrigado por estar ao meu lado no momento díficil que passamos quando perdemos o primeiro emprego, obrigado quando me arrumou um emprego no banco onde trabalhava.

Sou uma pessoa privilegiada por ter amigos, pessoas especiais como: Alemão, Jair e você (André). Fica com Deus!