Existe lista de casamentos, de enxovais, de aniversários, de compras, de contas a pagar e a receber, mas será que alguém pensou em fazer uma lista mórbida? Sobre as pessoas que gostaria de dividir os momentos finais de sua carne exposta neste planeta? Quem você gostaria que olhasse para você nos momentos finais de sua existência, onde o caixão seria sua cama, coberto por plantas e com algodão no nariz. É um momento ruim para dividir com pessoas que não possuem intimidades, isto é certo, mas também não se pode privar os outros de prestarem uma pequena homenagem ao seu corpo.
Mas existem pessoas que não podem faltar, como amores, familiares, amigos, credores, inimigos, clientes, fornecedores, antigos companheiros de faculdade, fãs, fofoqueiras de plantão para poder conferir se há sua hora chegou de verdade.
O principal de todos são os credores, estes sim são fundamentais para poder conferir que a dívida morreu junto com o defunto, e os amores então, são indispensáveis. Aquele papo de que antigos amores não movem moinhos, pode acreditar que também não levanta defunto, porque se levantassem seria uma boa convidar todas mulheres que passaram pela sua vida, só tem que averiguar se no lugar onde será velado o seu corpo há espaço para todas elas, se houver é fundamental que sejam convidadas, assim o drama será mais completo a choradeira seria generalizada e todos poderiam verificar que a sua falta seria sentida, pelo menos no que se refere a amores passados, pensões deixarão se existir, mesadas deixariam de ser pagas, alugueis de apartamentos para amantes vencerão, roupas não serão mais compradas e nem jóias, o padrão de vida de todas haverá de cair ou então terão que buscar outros amantes para poder proporcionar vida longa as futilidades femininas e aos prazeres carnais, que um amante a moda (bom de cama) pode proporcionar. Bom de cama pelo menos naquele último momento onde ele deitará e dormirá eternamente.
Os inimigos também são indispensáveis visto que são eles que movem o motor da luta empresarial, são eles que motivam os prazeres estruturais de uma empresa, são esses indivíduos que motivam um empresário a correr riscos, a alterar toda estrutura de funcionamento e visão futura de uma empresa, mas levando em conta todos os inimigos diários, ai a soma dos participantes desta despedida se eleva em muito. Já pensou juntar numa mesma sala amantes, credores e inimigos, não há defunto que agüente tanta rivalidade num mesmo momento, quem sabe assim o motivo para que o defunto ressuscite seja maior, mas se isto acontecer pode ser pior, já pensou ele levantar na hora em que todos estes desalentos estiverem na sala. Isto será um motivo maior para que ele continue no mesmo lugar em que se encontre. Num caixão, onde com certeza será mais seguro.
Mas o principal com certeza é a família, completa com os parentes próximos e os de graus mais distantes ou os bastardos, mas que também são da família. Amigos serão também bem vindos, só não gostaria de vê-los chorando, nem muito alegres, porque a minha falta deverá ser sentida por todos sejam eles familiares ou amigos, sem muita tristeza, mas também sem muita euforia, tudo tranqüilo e calmo. Como sempre foi em todo o percurso de minha vida.
Um homem está pronto pra partir quando plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho, bom seguindo esta teoria, filho eu tive até mais de um, são dois lindos amores de minha vida, dois homens (fazer o quê?). Escrever um livro, também já fiz mais de um “Violetas d’minha vida” e “Sangrando na alma”, mas entrar no mundo literário é mais difícil do que sempre pensei, as editoras são fechadas a novos lançamentos e novos escritores, preferem investir em autores conhecidos e famosos, nada contra. Mas acho que existe muita gente boa (como eu) que ainda está esperando uma oportunidade de ser descoberto, só me faltou plantar uma árvore, se isto não acontecer até a minha partida o meu sepultamento será a minha principal árvore que poderei plantar.
A todos os que se incluem nesta listas sintam-se orgulhosamente convocados a participarem de minha despedida carnal. Meu último pedido será direcionado aos meus credores, não levem as contas pro velório porque não poderei pagá-las.
Ricardo Muzafir --------------------- 28/09/2005
“A arte seja falada, escrita ou pintada, retrata o momento de seu criador, é neste instante que se faz o artista. Quando ele consegue transformar seus instintos exagerados e intensos em algo Belo”. Ricardo Muzafir
quarta-feira, 23 de abril de 2008
terça-feira, 25 de março de 2008
ONDE FOI QUE EU ERREI?
Não sei, de que é feito o amor
Se só te amei!
Onde foi que errei?
Não sei do que foi feito o nosso amor
Valei-me Deus!
Me diz!
Onde foi que errei?
To sofrendo tanto, sem você
Não sonho, não durmo, não ando
Sem você, a tranqüilidade do meu ser
Ficou perturbada.
Se só te amei!
Onde foi que errei?
Só eu sei, por que passei
Pra te ter, de ver, de dar
Onde está a paz, que havia em meu coração
Ficou contigo.
Onde está os sonhos, dos meus desejos
Ficou contigo.
Vampira de meu corpo.
Se só te amei!
Onde foi que errei?
Ricardo Muzafir ---------------------- 30/09/05
Se só te amei!
Onde foi que errei?
Não sei do que foi feito o nosso amor
Valei-me Deus!
Me diz!
Onde foi que errei?
To sofrendo tanto, sem você
Não sonho, não durmo, não ando
Sem você, a tranqüilidade do meu ser
Ficou perturbada.
Se só te amei!
Onde foi que errei?
Só eu sei, por que passei
Pra te ter, de ver, de dar
Onde está a paz, que havia em meu coração
Ficou contigo.
Onde está os sonhos, dos meus desejos
Ficou contigo.
Vampira de meu corpo.
Se só te amei!
Onde foi que errei?
Ricardo Muzafir ---------------------- 30/09/05
segunda-feira, 24 de março de 2008
Dispo de minhas dores.
Dizem que do sofrimento e angústia
Nasce o poeta, o sonhador, o visionário.
Dizem que a saudade e a distância
Matam o amor, sufoca a alma.
Dizem que da loucura e a esquizofrenia
Nós fazemos doentes, malucos.
Dizem que a bala é perdida
Mas sempre tem origem, rumo e destino.
Da poesia e escrita extirpo as minhas dores
Escancaro a minha alma, abro meu coração.
Mas são poucos, que conseguem vê-los.
São poucos, que conseguem senti-lo.
São poucos, que conseguem decifrá-lo.
Porque o que dispo são dores
E o que escrevo são amores.
Ricardo Muzafir
14/06/06
Nasce o poeta, o sonhador, o visionário.
Dizem que a saudade e a distância
Matam o amor, sufoca a alma.
Dizem que da loucura e a esquizofrenia
Nós fazemos doentes, malucos.
Dizem que a bala é perdida
Mas sempre tem origem, rumo e destino.
Da poesia e escrita extirpo as minhas dores
Escancaro a minha alma, abro meu coração.
Mas são poucos, que conseguem vê-los.
São poucos, que conseguem senti-lo.
São poucos, que conseguem decifrá-lo.
Porque o que dispo são dores
E o que escrevo são amores.
Ricardo Muzafir
14/06/06
domingo, 23 de março de 2008
Dias modernos
Era uma avenida movimentada, carros vindo, carros indo. Pedro tinha acabado de sair do serviço para ir pra casa, pensou em sua mulher, nos seus filhos, um casal de crianças inocentes, que ainda não sabem como a vida é, às vezes massacrante, onde nós mesmos tornamos o inferno um lugar mais tranqüilo de viver, do que o nosso meio. Ainda não sabem do que somos capazes, espero que a vida os fazem mais doces, mais amáveis, mais tolerantes principalmente consigo mesmo. Espero que a mãe deles (a mulher que amo), encontre outra pessoa que possa fazê-la mais feliz do que eu, e que esta pessoa seja o pai que nunca consegui ser, pros meus dois anjinhos.
Chega uma hora em nossa vida que a necessidade de fazer da solidão a companheira sepultal, que irá nós acompanhar até que deitemos em nossa cama eterna. Assim os afastando, diminuímos o sofrimento dos entes queridos, é melhor vê-los me odiando e querendo se distanciar de mim, do que vê-los sofrendo e chorando após minha partida. No balanço final, com passivo bem maior que o ativo, onde a certeza do fracasso e a história do passado não deixam que aconteça algo diferente disto. É nesta hora em que o tempo é menos curto de se viver, que tentamos plantar a discórdia, para que o sofrimento seja menor e menos tortuoso.
É melhor ser lembrado pela discórdia do que pelo fracasso, já que o sucesso ficou nos pensamentos do passado.
Pedro pensou em dar meia volta em seu carro de andar na contramão até que encontra-se outro carro ou caminhão e bate-se, mas se for contra um carro, que culpa teria o outro carro, quantas pessoas estariam dentro dele, será que a vida foi para eles o mesmo inferno que foi para si? E se na batida ele não conseguisse morrer? E se ficasse paralítico? Ao invés de deixar uma lembrança cruel iria deixar a pena como lembrança de sua vida, para ele isto não bastava. Então a morte trazida pela condução de seu carro na contramão não seria a solução, só se ele fosse guiando no sentido de algum caminhão, talvez um volvo cabine dupla, com 8 eixos, ai sim ele conseguiria dar cabo de sua misera vida, mas isto tudo não bastava, e se neste dia dentro do corpo de bombeiro alguém resolver-se tornar o herói do dia, pleiteando uma promoção, efetuando o melhor dos resgates de sua vida, ai sim estaria dando tudo errado, do que fora planejado.
Então Pedro mudou de estratégia, o risco e projeto de condução em alta velocidade numa rodovia federal. É melhor brincar de roleta russa, pular do prédio mais alto da Avenida paulista, brincar de malabarista no trilho do mêtro. Entre todos estes atos covardes, não tinha opções mais e nem menos perigosas, todas tinham uma único objetivo, dar cabo de sua mísera vida.
Pensou em todas as alternativas, mas ser lembrado como um covarde? Também não seria seu foco, nem seu objetivo, cruel, mesquinho, tirano, tudo bem, mas covarde, nunca. Foi nesta hora que chegou em sua casa, sua bela esposa estava no playground brincando com as crianças, deixou os meninos brincando no parque de diversão e foi ao encontro de seu esposo. Ao chegar perto do carro, disse:
- Amor de minha vida, estávamos esperando para lhe dar a notícia melhor que você poderia ouvir no dia de hoje.
Pedro ficou calado esperando ouvir o que sua bela esposa estava prestes a lhe dizer, mal sabia ela que em sua cabeça estava rondando projetos inabaláveis de deixá-la. Não para viver a vida ao lado de outra mulher, mas para deixar o inferno que sua vida tornou.
Sua vida era trabalho – casa e casa – trabalho, nunca tinha tempo para seus filhos e nem para sua esposa.,As férias então, tinha até esquecido o que era isto. Por mais que trabalhava nunca conseguia sanar as contas que chegavam em sua casa, era tanta conta que o desespero transformou sua vida, apareceram doenças de pele, stress, mal humor, azia, gastrite e talvez uma úlcera. Nunca soube dar com cobrador, e era o que mais estava acontecendo, todo mês era a mesma coisa, tirar dinheiro de uma conta para cobrir a outra, vivia planejando e administrando no caos. E quando isto acontece o destino fica fadado ao fracasso.
Mas parou para escutar sua bela esposa.
- Pedro, estou falando com você? A família vai aumentar.
Arregalou os olhos, fitou sua esposa com o olhar mais cruel que poderia existir. Abriu o porta-luvas do carro, pegou uma caixa preta. Abriu a porta ao lado, saiu, chegou segurando a caixa preta, com tal força que seus dedos estavam roxos, ficou perto de sua esposa, abriu a caixa, e num gesto rápido apontou o revólver em sua boca, sem pensar, sem planejar, sem sentimento, apertou o gatilho e um silêncio se fez, após o soar de um revólver. Do dia se fez noite, do céu se viu o inferno. Maria aos seus pés, sem entender nada do que tinha acontecido, apenas chorava e gritava. Seus filhos vendo aquela cena, foram correndo ao encontro de sua mãe, que sem saber o que fazer virou rapidamente e pegou seus filhos no colo, todos chorando, gritando e berrando, foi nesta hora que o pequenino Joaquim falou:
- Mamãe, a senhora chegou a falar para o papai, que ganhamos um cachorrinho?
Ricardo Muzafir.
Fev.2008
Chega uma hora em nossa vida que a necessidade de fazer da solidão a companheira sepultal, que irá nós acompanhar até que deitemos em nossa cama eterna. Assim os afastando, diminuímos o sofrimento dos entes queridos, é melhor vê-los me odiando e querendo se distanciar de mim, do que vê-los sofrendo e chorando após minha partida. No balanço final, com passivo bem maior que o ativo, onde a certeza do fracasso e a história do passado não deixam que aconteça algo diferente disto. É nesta hora em que o tempo é menos curto de se viver, que tentamos plantar a discórdia, para que o sofrimento seja menor e menos tortuoso.
É melhor ser lembrado pela discórdia do que pelo fracasso, já que o sucesso ficou nos pensamentos do passado.
Pedro pensou em dar meia volta em seu carro de andar na contramão até que encontra-se outro carro ou caminhão e bate-se, mas se for contra um carro, que culpa teria o outro carro, quantas pessoas estariam dentro dele, será que a vida foi para eles o mesmo inferno que foi para si? E se na batida ele não conseguisse morrer? E se ficasse paralítico? Ao invés de deixar uma lembrança cruel iria deixar a pena como lembrança de sua vida, para ele isto não bastava. Então a morte trazida pela condução de seu carro na contramão não seria a solução, só se ele fosse guiando no sentido de algum caminhão, talvez um volvo cabine dupla, com 8 eixos, ai sim ele conseguiria dar cabo de sua misera vida, mas isto tudo não bastava, e se neste dia dentro do corpo de bombeiro alguém resolver-se tornar o herói do dia, pleiteando uma promoção, efetuando o melhor dos resgates de sua vida, ai sim estaria dando tudo errado, do que fora planejado.
Então Pedro mudou de estratégia, o risco e projeto de condução em alta velocidade numa rodovia federal. É melhor brincar de roleta russa, pular do prédio mais alto da Avenida paulista, brincar de malabarista no trilho do mêtro. Entre todos estes atos covardes, não tinha opções mais e nem menos perigosas, todas tinham uma único objetivo, dar cabo de sua mísera vida.
Pensou em todas as alternativas, mas ser lembrado como um covarde? Também não seria seu foco, nem seu objetivo, cruel, mesquinho, tirano, tudo bem, mas covarde, nunca. Foi nesta hora que chegou em sua casa, sua bela esposa estava no playground brincando com as crianças, deixou os meninos brincando no parque de diversão e foi ao encontro de seu esposo. Ao chegar perto do carro, disse:
- Amor de minha vida, estávamos esperando para lhe dar a notícia melhor que você poderia ouvir no dia de hoje.
Pedro ficou calado esperando ouvir o que sua bela esposa estava prestes a lhe dizer, mal sabia ela que em sua cabeça estava rondando projetos inabaláveis de deixá-la. Não para viver a vida ao lado de outra mulher, mas para deixar o inferno que sua vida tornou.
Sua vida era trabalho – casa e casa – trabalho, nunca tinha tempo para seus filhos e nem para sua esposa.,As férias então, tinha até esquecido o que era isto. Por mais que trabalhava nunca conseguia sanar as contas que chegavam em sua casa, era tanta conta que o desespero transformou sua vida, apareceram doenças de pele, stress, mal humor, azia, gastrite e talvez uma úlcera. Nunca soube dar com cobrador, e era o que mais estava acontecendo, todo mês era a mesma coisa, tirar dinheiro de uma conta para cobrir a outra, vivia planejando e administrando no caos. E quando isto acontece o destino fica fadado ao fracasso.
Mas parou para escutar sua bela esposa.
- Pedro, estou falando com você? A família vai aumentar.
Arregalou os olhos, fitou sua esposa com o olhar mais cruel que poderia existir. Abriu o porta-luvas do carro, pegou uma caixa preta. Abriu a porta ao lado, saiu, chegou segurando a caixa preta, com tal força que seus dedos estavam roxos, ficou perto de sua esposa, abriu a caixa, e num gesto rápido apontou o revólver em sua boca, sem pensar, sem planejar, sem sentimento, apertou o gatilho e um silêncio se fez, após o soar de um revólver. Do dia se fez noite, do céu se viu o inferno. Maria aos seus pés, sem entender nada do que tinha acontecido, apenas chorava e gritava. Seus filhos vendo aquela cena, foram correndo ao encontro de sua mãe, que sem saber o que fazer virou rapidamente e pegou seus filhos no colo, todos chorando, gritando e berrando, foi nesta hora que o pequenino Joaquim falou:
- Mamãe, a senhora chegou a falar para o papai, que ganhamos um cachorrinho?
Ricardo Muzafir.
Fev.2008
Carcará
Chuva divina, a molhar o cerrado
Plantação suada no orvalho da noite
Tempestade que varre o deserto do sertão
Carcará que sobrevive da devassidão.
Granizo rasgando o asfalto
Quebrando as vidraças
Cortando as folhas do bananal.
Sem água para fazer crescer
O que jaz um dia fora um canavial
Com folhas cortando a epiderme da carne
Hoje de nada resta, na terra insossa.
As chaminés enfeitam a paisagem
O moinho transforma-se num pombal.
E a terra, seguimentada, fatiada, seca.
Implora a água bandida do granizo brutal.
Sertão desumano, onde mora gente simples
De pés descalços, e mãos grossas,
Marcadas como a terra que os abriga.
Carcará que sobrevoa a carniça.
Espreita na escuridão, o breu da devassidão.
Chuva que molha o sertão
De nada resta, do lodo que seca no poço.
E mancha o verde cinza, do chão árido
No sertão da nossa terra.
Granizo gelado, no sertão asfaltado
Sem terras para molhar, apenas cimento para lavar.
Inundando ruas e travessas, alagando túneis e passarelas
Enchente que devassa, chuva que afoga
Dor que consome, ao ver o corpo boiando
Ou o carro flutuando, na correnteza da água
Que sem ter pra onde escoar
Inunda, e transforma a cidade
Numa tsuname, de água e vento.
Desmoronando barrancos
Desabrigando famílias, matando gente.
A mesma água que falta é a que consome
A mesma água que mata é a que dá vida.
Carcará sobrevoa a carniça
Do cimento asfáltico, ou terra seca, grossa e morta.
Ricardo Muzafir
Plantação suada no orvalho da noite
Tempestade que varre o deserto do sertão
Carcará que sobrevive da devassidão.
Granizo rasgando o asfalto
Quebrando as vidraças
Cortando as folhas do bananal.
Sem água para fazer crescer
O que jaz um dia fora um canavial
Com folhas cortando a epiderme da carne
Hoje de nada resta, na terra insossa.
As chaminés enfeitam a paisagem
O moinho transforma-se num pombal.
E a terra, seguimentada, fatiada, seca.
Implora a água bandida do granizo brutal.
Sertão desumano, onde mora gente simples
De pés descalços, e mãos grossas,
Marcadas como a terra que os abriga.
Carcará que sobrevoa a carniça.
Espreita na escuridão, o breu da devassidão.
Chuva que molha o sertão
De nada resta, do lodo que seca no poço.
E mancha o verde cinza, do chão árido
No sertão da nossa terra.
Granizo gelado, no sertão asfaltado
Sem terras para molhar, apenas cimento para lavar.
Inundando ruas e travessas, alagando túneis e passarelas
Enchente que devassa, chuva que afoga
Dor que consome, ao ver o corpo boiando
Ou o carro flutuando, na correnteza da água
Que sem ter pra onde escoar
Inunda, e transforma a cidade
Numa tsuname, de água e vento.
Desmoronando barrancos
Desabrigando famílias, matando gente.
A mesma água que falta é a que consome
A mesma água que mata é a que dá vida.
Carcará sobrevoa a carniça
Do cimento asfáltico, ou terra seca, grossa e morta.
Ricardo Muzafir
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